Sapoti, o amor no paladar!
Minha mãe tem um jeito peculiar de demonstrar prazer ao degustar uma fruta ou comida. Ela simplesmente saboreia e exclama: "Eu amo!"
Na comemoração do meu aniversário deste ano, voltávamos de uma praia no litoral de Alagoas quando, de repente, ela gritou para o meu filho:
— Para o carro, para o carro!
Nos assustamos, sem entender o que estava acontecendo, e ela simplesmente respondeu, eufórica:
— Tem uma barraca de frutas, e eu vi sapoti!
Mamãe simplesmente ama sapoti. Sua alegria era comparável à de uma criança ao ganhar um pirulito ou seu brinquedo favorito.
Ela desceu do carro, negociou com a dona da barraca e voltou com dois pacotes: havia comprado trinta reais de sapoti.
Exclamei:
— Pronto, mãe, agora a senhora mata a sua vontade.
E ela, exultante, soltou um “E apois!”
Como boa nordestina, alagoana do interior, mamãe tem um vocabulário rico em expressões típicas da região e neologismos.
Ao chegar em casa, feliz com os sapotis, passei a observá-la dia após dia no seu manejo cuidadoso com a fruta. Aquele objeto de desejo recebia uma atenção especial: ela os colocava em uma tigela, apalpava para sentir os que já estavam maduros e separava os demais. Os verdes, ela “abafava” — como costuma dizer — em uma vasilha com tampa, para que amadurecessem.
Com um sapoti maduro na mão, mamãe se sentava na varanda, abria a fruta em duas partes, saboreava e, em êxtase, exclamava:
— Eu amo sapoti!
Observando essa cena, refleti sobre como é essencial manter a alegria e o entusiasmo em momentos simples do dia a dia, pois são eles que fazem a felicidade nos visitar. Vejo minha mãe, aos 83 anos, saboreando o sapoti como uma criança se lambuza com sorvete ou com seu doce favorito. Um transbordamento genuíno de alegria e prazer pela vida — contagiante e inspirador.
Se Deus permitir, quero chegar à idade da minha mãe sentindo esse mesmo prazer autêntico com os sabores, os odores e as contemplações da vida, para os quais eu também possa expressar, radiante: "Eu amo!"
Texto: @elianacustodiojornalista
