Fazia inverno no meu coração quando a saudade batia mais forte. E eu me recolhia e me encolhia querendo me aquecer, mas faltava o seu abraço para eu me sentir agasalhada e amparada. E aquela dor trancada no peito era mais do que um pulsar de coração, era um pedido de socorro. E eu saía tentando te achar... Quem sabe contemplando o mar? Pés descalços... A areia molhada fazendo massagem no solado dos pés era quase uma carícia...Quase...E eu andava, andava e andava deixando a lágrima rolar livremente... E ela se confundia com o vento roçando em meu rosto.
Andar, para onde? Onde eu poderia encontrar você? Aquela imensidão de mar dava uma pista? Eu olhava para a areia, para o mar e para o vazio contido em ambos. Quando a saudade não cabe mais no peito ela quer ser extravasada de alguma forma. E eu escolhi andar...O sol de fim de tarde já não castigava tanto... E meu andar agora parecia um passear. Quantos quilômetros andei beirando o mar? Já não sabia... E então deixei-me largar na areia, exausta, num soluço que parecia não ter fim. E assim fiquei, de olhos fechados e aquela voz martelando na minha cabeça: Por quê? Por quê? Por quê?
Lembrei das folhas caindo em meu ombro quando conversávamos embaixo da árvore. Era outono e você fazia elucubrações sobre as estações e os estados de humor em cada uma delas. E eu dizia que preferia a primavera, porque ela lembrava o seu aniversário, e que o seu nascimento era para mim como um lindo jardim de belas e perfumadas flores...Você ter nascido e enfeitado a minha vida era a plenitude da primavera! Gargalhávamos e mais e mais filosofávamos.
Abri os olhos e aquela luz forte me fez fechar de novo os olhos e piscar várias vezes. Deitada na areia, olhos mais abertos, observei que a claridade não era mais do sol, vinha das luzes, já acesas, e iluminando a orla, anunciando o anoitecer. Sentei-me e fiquei a observar as ondas e as cores do mar. O mesmo mar... Diferente mar. A cada hora. A cada estação. Me levantei e me permiti mergulhar nesse mar da noite. E lembrava de outra conversa nossa, dentro do carro. Falávamos sobre o quanto a vida é fugaz e sobre qual seria o sentido para tudo. E você me dizia que quando partisse, gostaria de ficar lá deitado, descansando. Eu sorria e dizia que então iria providenciar uma cama para você lá no céu. Ela seria fofinha, porque seria feita de nuvens para, assim, você dormir como quem estivesse flutuando protegido por uma grande boia de mar.
É verão no calendário oficial e a onda que vai e vem me faz lembrar o movimento da vida. Cheio de curvas, buracos, ruas sem saída, anoitecer e amanhecer. O sol voltará a brilhar amanhã, filho, e quando eu olhar para o céu, aplacarei um pouco dessa saudade procurando entre as nuvens, uma em formato de cama de onde você acenará para mim com a sua saudação preferida: até mais!
(Autora: Eliana Custódio)
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